segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Receita de Ano Novo

Receita de Ano Novo
Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

sábado, 8 de dezembro de 2012

O saco cheio do Papai Noel

Chega mais um mês de dezembro, quando a humanidade se enche de humanidade. Tem muita gente já comprando e distribuindo cestas básicas, balas, pirulitos, bolas e bonecas, por todo lugar – por aí, por aqui. Nada contra, mas penso que esse excesso de bondade poderia ser melhor distribuído, nos doze meses de cada ano.
Tem gente que só lembra de algum familiar, ou amigo, no final do ano – entre o Natal e o reveillon. Nunca entendi muito bem isso. Como também não entendo tanta coisa em mim, prefiro pensar que, pelo menos, as pessoas recuperam alguma memória perdida – coincidentemente, sempre no final de ano.
A realidade mesmo é que a maioria resolve ser boazinha, por tempo limitado. O prazo de validade começa expirar, nas primeiras semanas de dezembro, acabando de vez, na primeira semana de janeiro. Isso é tão notório, que tem gente que sempre se aproveita deste período, para chamar a atenção, fazendo pedidos inimagináveis de presentes com preços inimagináveis.
Também nesta época, muita gente faz promessas – possíveis e impossíveis. As promessas (claro!) sempre estão embasadas nas frustrações do ano que termina. Os mais espertos, em vez de prometerem o que, sabem, não vão cumprir, preferem fazer simpatias, no fim do ano. E já ninguém dá mais bola para o ridículo de contar e comer sementes de uva, ou vestir roupas apertadas, ou fora de moda, com a “cor da sorte”.
Confesso que fico um tanto reticente, a cada final de ano, diante de tantas caridades, solidariedades, bondades, e outras “dades”. Em vez de pensar sobre isso, ainda prefiro acreditar que, no próximo ano, seremos melhores – com a gente mesma e com os outros -, antes mesmo de chegar dezembro.
Dia desses, fiquei sabendo, por um favelado, que dois veículos estacionaram, junto aos barracos onde ele mora. Os dois motoristas foram lá fazer doações – cestas básicas, brinquedos, e todo resto vendido em liquidação de lojinhas de um real. “Até aí, tudo bem, por que já estamos acostumados, todo fim de ano, ser lembrados, mais uma vez” - disse o favelado. O pior da história, ele deixou pro final: “A coisa ficou feia, quando os motoristas se xingaram e brigaram, com socos e pontapés, por que queriam ser o primeiro a fazer a doação. E primeiro é só um, né?”
Mas ainda tem algo mais gritante, em todos os fins de anos: as propagandas do comércio, na televisão, nas rádios, nos jornais, na internet. Toda vez, é a mesma coisa: eu quase me convenço de que, comprando isso ou aquilo (especial = caro e descartável), vou fazer alguém feliz (provavelmente, o vendedor do produto).
Depois disso tudo, eu prefiro ignorar as campanhas – publicitárias e de arrecadação de doações –, pelo menos, no final de cada ano...
Até o Papai Noel já deve estar de saco cheio...

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Pensar

Todo mundo pensa, o tempo todo – a vida inteira.
Uns pensam, por pensar.
Outros pensam, sem querer.
Alguns desejam pensar, e acabam não pensando.
Tem aqueles que não querem pensar, e só pensam nisso.
Outros pensam, e esquecem o que pensaram.
Há os que pensam, para lembrar.
Uns pensam no que estão fazendo.
Alguns pensam no que não fizeram, não fazem.
Tem os que agem, sem pensar.
Outros só pensam, não agem.
Há aqueles que pensam, pensam, só pensam.
Alguns pensam no que poderiam estar pensando.
Outros tentam pensar o que os outros podem estar pensando.
Tem gente que pensa que pensa, mas não pensa.
Uns fingem não pensar.
Há quem diz que não tem tempo de pensar.
Ainda tem os que fingem pensar.
Outros brincam de pensar.
Tem gente que não pensa, por que isso dá trabalho.
Alguns trabalham, só pensando.
Outros nem sabem o que pensar.
Uns pensam demais, e perdem o sono.
Há aqueles que acordam, pensando.
Alguns se apavoram com o que pensam.
Outros se veem, de repente, pensando.
Tem quem comemora o que pensa.
Uns não conseguem decifrar o que pensam.
Tem gente que julga o que pensa.
Outros julgam o que os outros dizem pensar.
Muitos perdem o fio da meada do que estão pensando.
Uns não conseguem parar de pensar o que pensam.
Há quem relaxa, pensando.
Tem aqueles que pensam, mas nem chegam pensar que pensam.
Alguns querem pensar por todos nós.
Outros alguns querem que pensemos por eles.
Tem gente que larga tudo, para ficar pensando, pensando, só pensando.
Uns pensam, buscando respostas.
Outros questionam mais ainda, quando pensam.
Entre todos, estou eu – que não quero pensar mais, pelo menos agora, sobre isso.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A imagem da imagem

Sabemos que podíamos estar “roubando, matando, estuprando”. Mas não. Escrevo. E, enquanto escrevo, penso que você pode até me ler – ou não. Sabemos, também, que, em países do “primeiro mundo”, as crianças falam, fluentemente, o inglês – and I no speak english today, and tomorrow, too. Oh, god!...
Tudo, tudo mesmo, é imagem, representação. Não enxergamos – tão somente imaginamos enxergar o que vemos. Imagem, imagem – nada além do que imagens. A vida pode ser resumida nisso: imagem, ou a imagem da imagem. Por que, além da representação, há o imaginário, que permeia lugares inimagináveis.
Tudo começa – penso eu, que penso demais, mas não chego a tanto – quando passamos a construir uma imagem de nós mesmos. Depois, nos detemos na 'feitura' da imagem do(s) outro(s), com quem convivemos. Mas a historinha vai além (sempre tem mais): cada outro faz uma imagem da gente. Pior que isso é que, quase sempre, desapontamos e nos desapontamos com as imagens criadas por nós e pelos outros. Acho mesmo que o maior desapontamento é nosso, em relação a nós mesmos. Depois, vem o desapontamento em relação à imagem que construímos do outro, à revelia da imagem que o outro tenha conseguido fazer dele mesmo.
Mas precisamos reconhecer, também, que há muita imagem nossa melhor do que somos, ou, pelo menos, de quem imaginamos que somos. Pode observar, tem sempre alguém retocando a nossa imagem da imagem nossa: ou nós mesmos, ou os outros. Para melhor. Para pior. Tudo depende do olhar do momento - banido, sempre, pelo próximo instante, pelo outro olhar.
Ser humano vai sempre além. Por isso, criamos mitos – desde sempre. Por não querermos mais só idolatrar os mitos gregos e romanos – que prevalecem nos livros de história da humanidade -, mitificamos personagens contemporâneos, vestidos pelas imagens criadas por nós. É por isso que hoje temos tantos mitos estampados por todo o lugar. Bons ou maus, os mitos são criados, conforme a necessidade do público, que quer vaiar, ou aplaudir.
Com isso tudo acontecendo, proliferam-se os conhecidos “paparazzi”, que ganham dinheiro, fotografando e vendendo imagens de mitos populares – saindo de banheiro público, comendo com a boca aberta, ou simplesmente andando de bicicleta, em algum calçadão. As imagens fascinam, por que, para os idólatras, situações comuns de todos nós são inimagináveis, quando os protagonistas são os mitos adorados, com imagens cada vez mais distanciadas da realidade humana.
Tem gente que diz que necessitamos mitificar, para mantermos os parâmetros de bem e mal, bondade e maldade, etc e tal, destacando exemplos humanos a serem seguidos, ou não. Na minha opiniãozinha sem importância alguma, não penso que necessitamos disso – até por que muitos de nós (eu também) nos esforçamos para não alimentar as imagens dos mitos. Já dizia a tataravó da minha bisavó: quanto mais alto o pedestal, maior o tombo.
Claro que somos todos diferentes – idólatras e idolatrados -, mas nem tanto. Sonhos, desejos, projetos, medos – temos muito em comum. Se a mitificação decorre da frustração em relação a nós mesmos, acho que, em vez de despejarmos no outro (mito), expectativas além do além, o mais simples seria lidar (mudar) com a própria realidade – a nossa realidade. Sem mitificação.

sábado, 27 de outubro de 2012

Sabor de caramelo

A vida pode ter mesmo sabor de caramelo. Acredito nisso, por que alguém me mostrou, há muito tempo, na minha infância cheia de observações, sabores, cheiros, imagens, que o o melhor da vida pode ter sabor de caramelo: meu pai.
Muito mais que falar, meu pai colocava valores, na vida, que, se você não lhes dá atenção, nem os percebe. Foi assim que cresci, na companhia de meu pai: observando tudo, silenciosamente, e aprendendo. Se sempre falo do meu pai, é por que ele foi meu primeiro mestre da vida, na minha vidinha. Depois, tive outros mestres, que me mostraram tantas paisagens, tantos caminhos. Mas foi com meu pai que aprendi a buscar sempre meu olhar microscópico, sem me deter, me perder, na aparência, na casca, no invólucro.
Lembro, agora, quando meu pai, já aposentado, criou um hábito vicioso: comprava sempre pacotes de caramelos. Nada de caramelos linda e separadamente embalados. Não. Eram caramelos comuns – multicoloridos, mas sempre os mais baratos. Comprava um, ou dois quilos, e íamos para casa, chupando caramelos. O sabor era especial – talvez, puro açúcar -, por que tinha o sorriso do meu pai, naquele olhar acinzentado.
Já disse que meu pai não verbalizava tudo – as atitudes eram mais as palavras dele. Foi meu pai que me ensinou, com os exemplos que dava, naturalmente, a buscar o melhor das pessoas. Havia, nos olhos de meu pai, uma esperança na humanidade, que me encantava, e até me fazia acreditar que nem tudo estava perdido, que podíamos nos tornar melhores – todos, todos nós, seres humanos.
Entre um caramelo e outro, meu pai, às vezes, falava da infância dele, quando lembrava ter vendido, de porta em porta, verduras, legumes, frutas. Depois, recordava os tempos de exército, dos exercícios físicos forçados na neve. Ah, mas o melhor sempre ficava por último, na conversa com sabor de caramelo. Meu pai contava sobre as viagens dele, conduzindo trens (por mais de 30 anos, foi maquinista). Quantas paradas de trem meu pai fez, de madrugada, no meio do nada, só para tomar chimarrão, “no ar fresco e puro da noite” - dizia ele. Mas, também, haviam as caçadas de pequenos animais do mato, além da pesca em algum “lugar perdido cheio de água limpa”. Depois, feito menino cansado de brincar, meu pai retornava ao trem, e continuava conduzindo a grande viagem. Antigamente, os trilhos dos trens não tinham pressa, passeavam no meio do mato, adentravam lugares silenciosos e sombrios, para depois se depararem com o nascer do sol.
Ainda sinto o sabor daqueles caramelos que alegravam a alma infantil do meu pai, que, numa noite, seguiu a viagem mais surpreendente da vida - nós todos também trilharemos...

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Nosso presente para o futuro

Em meio a brinquedos atrativos e barulhentos, presentes variados, pacotes brilhantes e laços coloridos, fico eu pensando nas crianças. Meus filhos cresceram – tempo célere. Não tenho (ainda) netos, tataranetos, bisnetos. Mas continuo fascinada pela infância – toda infância humana, e a minha infância, também.
Lembro do meu espanto, quando percebi que, sem planejar, sem maquiavelismo algum, eduquei meus filhos. Até então, eu ainda imaginava que educar fosse aquilo que me impingiram, quando eu era criança: educação rimava com obrigação. E eu nunca levei jeito pra impor, obrigar, ou até mesmo brigar. Do meu jeito sem jeito, eduquei, e, até hoje, meus filhos lembram nossas aventuras, na infância deles, que também foi minha, e continua sendo, por que continuamos brincando, nos aventurando, compartilhando vida.
Enquanto a maioria, que tem crianças por perto, se preocupa em comprar e dar presentes, nesse dia, eu fico pensando no que pode ser nosso presente para o futuro. Até por que, acho eu, de nada adiantaria superlotarmos as crianças de brinquedos e doces, esquecendo que o que fica mesmo é o exemplo de ser humano. A minha preocupação maior, no que se refere à infância, reside justamente aí: e se esquecermos que, todo o tempo da vida inteira, somos exemplos, principalmente às crianças?...
É certo que, entre 8 e 80, há outras 72 possibilidades. Por isso, o ato de cercear completamente, ou liberar geral, gera desequilíbrios inimagináveis. Isso, a gente (chamada adulta) sabe, por que vivencia. Mas cadê balança, régua, pra precisarem como cuidar de uma criança?... Por favor, não me venham com manuais que determinam como educar crianças!... Só mesmo no 'olhômetro' do sentimento – penso eu, que penso tanto, sem nada concluir. Se são nossos filhos, torna-se mais simples, o ato de observar, conhecer, respeitar, por que existe o amor genuíno – ainda acredito nisso. Se não são nossos filhos, existe vínculo – ou por que somos babás, ou por que damos aulas, enfim, convivemos. Mas ainda nos deparamos com outras crianças – os filhos de ninguém, rostos invisíveis pedindo “um trocado, tia”. São todas crianças – sonhos e desejos semelhantes.
Sei que estou 'viajando', enquanto escrevo. Mas é isso que quero, por que, quando se trata de crianças, viajo mesmo, me permito a isso, e o passaporte é a minha preocupação: qual será nosso presente para o futuro?... Hoje, Dia das Crianças (de Nossa Senhora Aparecida, e de Oxum, também), qualquer presente faz brilhar o olhar infantil – e no futuro?... Presente é bom – todo mundo (até adulto) gosta. Mas há presente que estraga, quebra, enferruja, desmancha, desgasta, fere, até mata, e não tem mais conserto.
Em qualquer tempo da humanidade, família sempre representa convivência de conflitos, por que todo mundo é diferente (ainda bem). Aos pais, dizem que cabe prover, através do trabalho – dentro e fora do lar, nem sempre doce -, as condições de subsistência, sobrevivência e existência dos filhos. Sabemos que nem sempre é assim. Há notícias de que tem muitos pais esquecendo os filhos dentro de veículos trancados, jogando os filhos na lixeira, ou pela sacada, espancando os filhos, e outros pais que estupram os filhos. Nem me interessam as justificativas. Mas cuidado e proteção aos filhos continuam sendo lei.
Na correria em que os pais vivem hoje, tendo condições financeiras, contratam empregada doméstica, para cuidar da manutenção do lar e dos filhos. Com mais dinheiro disponível (traduzindo: trabalhando mais, com menos tempo em família), os pais pagam os serviços de uma babá, para cuidar dos filhos. No Brasil, isso é mais comum que na maioria dos países, principalmente, na europa, onde os serviços domésticos estão sempre em alta cotação, pelo que estou informada. Pois bem. Na maioria das famílias com melhores condições financeiras, os filhos estão sendo educados por empregadas, que, às vezes, foram alfabetizadas e deixaram os estudos, para começarem trabalhar cedo, depois tiveram filhos, e não retornaram à escola. Eis outra palavra salvadora: escola. É notório que muitas famílias são dependentes da escola dos filhos, “local seguro” (hoje, nem tanto), onde as crianças ficam, por algumas horas. Para compensarem a ausência, os pais enchem os filhos, com presentes atrativos. Se os filhos vão mal na escola, trocam de escola. Pronto. Tudo resolvido. Resolvido?... sei não.
Do lado de fora da família estruturada(?), crescem as crianças que nem sempre vão à escola, nem sempre conhecem pai e mãe, nem sempre tem café da manhã, jantar, almoço, lanche, roupas, calçados, brinquedos. Ignoradas ou não, as crianças continuam lá – nas ruas, nas periferias -, à espreita, crescendo. Mas a correria dos pais é tanta, que essas crianças tornam-se invisíveis, até que cometem um delito, dois delitos, ou vinte delitos, como assisti, dia desses, numa reportagem, quando um garoto de doze anos foi apreendido pela polícia (20ª vez). Já não são mais invisíveis, nem crianças – aos olhares humanos(?), marginais. Mas, no fundo, continuam crianças – bem além de uma certidão de nascimento, embalada num saco plástico retirado do lixo.
Alguém pode perguntar (perguntam sempre): “O que eu tenho a ver com isso?”... Gosto de responder com outra pergunta: O que nós todos não temos a ver com isso?...
Ah, já ia esquecendo (imagina!): tenha um feriado feliz!...

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Oferta e demanda

Daqui a pouco, chegamos no mês de outubro, e, talvez, você, feito eu, também nem esteja se interessando pela campanha eleitoral deste ano. Pode dizer que é cedo para pensar nisso. É isso mesmo. Deixe para pensar mais tarde, muito tarde – ou, melhor ainda, nem pense a respeito. Afinal, o que a gente tem a ver com isso, não é mesmo?... Se não somos políticos – candidatos, ou puxa-sacos -, para que acompanharmos os entendiantes programas eleitoreiros, que atrasam as novelas da televisão?...
Independente de quais sejam os candidatos, na minha desimportante opinião, o que não pode faltar, numa campanha, é aquela frase maravilhosa: “Peço licença, para entrar nos vossos lares”. Gente, quanta criatividade (alguns plagiam, é verdade)!... E a impostação de voz, ou de vozes?... Tem tanta coisa artística, dita e notada, nas campanhas eleitorais, que, em ano de eleição, eu sempre acho que tem gente que reprisa vídeos, feito “vale a pena ver de novo” mesmo (traduzindo: se não gostou na primeira, engula a segunda vez).
Diante de tantos candidatos, fica mesmo difícil escolher. Eu começo sempre por eliminar – por exemplo, não falou “peço licença, para entrar nos vossos lares”, já está fora. Mas há que se considerar outros pormenores, ou 'pormaiores'. Eu sempre observo se o candidato inova: tem de falar que vai trabalhar por saúde, educação, segurança, transporte e habitação (nem sempre nesta mesma desordem). Ah, não pode faltar a preocupação dos candidatos com as crianças, os velhos, os jovens, as mulheres, os negros, os índios, os homossexuais, os trabalhadores, os desempregados, os religiosos, os ateus, os doentes, os sadios. Isso tudo (e mais um pouco) não pode ficar de fora.
Mas sou exigente. Quero mais, para continuar selecionando, até chegar à escolha dos meus candidatos – este ano, vale lembrar (tem gente que nem sabe), as eleições são municipais. Tem prefeito se pendurando em retroescavadeira (novinha em folha), buscando reeleição, enquanto vereadores se seguram nas cadeiras, cantando: “daqui, não saio; daqui, ninguém me tira”.
São tantos candidatos, que resolvi fazer um manualzinho de filtro. Escolha o candidato mais bonito, ou a candidata mais bonita (se fizer alguma coisa, não vai fazer feio). Se for artista, ou que se ache, pelo menos, celebridade, melhor ainda. Ou, então, escolha o candidato, ou a candidata, que já teve o nome em processos de falcatrua. Você não sabe o que é falcatrua? - melhor ainda. Pelo menos, o candidato, ou a candidata, já fez alguma coisa, e até ficou famoso(a), por isso. O importante é que a maioria fale – bem ou mal – do candidato, da candidata, pra você votar. Você não vai querer votar num(a) ilustre desconhecido(a), né?... Fama é tudo.
Todo mundo sabe que um monte de eleitores vende o voto a um monte de candidatos. Dependendo da cotação no mercado, o voto parece ter valor – senão para quem vende, pelo menos, para quem compra. Eu sei que tem muita gente que reclama, que quer ganhar mais dinheiro, para votar no fulano, ou na sicrana. Esses eleitores se assemelham, à minha visão estrábica, àqueles caras estressados que trabalham na bolsa de valores de qualquer lugar do planeta. Gente, necessário se faz compreender o momento: o mercado está superlotado de ofertas - muitos eleitores trocam o voto por uma casca de cebola. Isso é fato. Já a demanda é criteriosa: trabalha na base do olhômetro leiloeiro – preferencia a compra de um voto, barganhando o kit família, e oferece, não uma casca de cebola, uma cebola podre, fedorenta. Resultado disso: no dia da eleição, já não existe mais a lembrança do valor do 'negócio', mas o 'santinho' do candidato segue enroladinho, entre os calos da mão do eleitor, objeto da maior confiança dos candidatos que investiram nele.
Eu sou irônica?... imagina...

terça-feira, 31 de julho de 2012

Pensar na vida

Pensar na vida. Pensar na vida! Pensar na vida? Por que eu perderia tempo, pensando na vida? A vida inteira, tenho gente, ao meu redor, pensando na minha vida. Enquanto moro com os pais, eles que pensem na minha vida. Depois, se eu caso, o marido, ou a esposa, que pense (e cuide) da minha vida. E ainda tem os vizinhos, os colegas de trabalho, os companheiros de festas – todos pensam na minha vida. Por que eu haveria de pensar na vida?
Pensar na vida cansa, dá trabalho demais, e ainda dói. A escolha é minha, não é? Então, escolho viver, sem pensar na vida. Prefiro fugir de qualquer conversa que me faça pensar, ou me queira pensando. Se percebo, em mim, qualquer indício de pensamento sobre a vida, encho meu ambiente de ruídos, sons ensurdecedores, gargalhadas desvairadas, e festas, e baladas.
Ouço tanta gente dizer que pensa na vida – na própria (vida) e na dos outros. É religioso. É monge. É idealista. É filósofo. É assistente social. É Prêmio Nobel da Paz. Por que eu pensaria na vida, se não sou nada disso, nem pretendo ser? Quem quiser pensar, que pense, que sofra, que procure sentido pra vida. Eu quero mais é viver, curtir a vida, sem pensar.
Se eu começar pensar na vida, vou parar de culpar os outros, e vou perceber – pensando – que sou eu que causo o bem e o mal que sofro. Pensar na vida, definitivamente, não dá certo. Se eu pensar na vida, vou querer pensar mais ainda, e vou enxergar a vida de uma outra forma – mais clara, mais real. Não. Não quero pensar na vida – nem na minha vida, nem na vida de ninguém.
Pensar na vida pressupõe pensar no tempo, pensar na morte. Eu quero mais é me divertir, longe de quem pensa na vida. O que acho pior é que essas pessoas que pensam na vida dizem que não querem chegar à conclusão alguma, mas sim, questionar, cada vez mais. Prefiro não pensar, não questionar. Que ninguém tente me obrigar pensar na vida. Não obedeço – sem pensar.
Ao que parece, quem pensa na vida está sempre instigando os outros a (também) pensarem. Comigo, não. Não tenho tempo pra essas besteiras. Quero mais é o imediato, o supérfluo, o descompromisso, o sem pensar mesmo. Depois, todo mundo morre mesmo – quem curtiu a vida, e quem pensou sobre ela. Por que vou me importar com isso?
Se, de repente, me vejo pensando na vida, saio pra beber, pra curtir a vida. Quando o efeito não é o esperado, busco drogas mais fortes – alguma qualquer coisa que me faça parar de pensar. E ainda tem gente que continua pensando em mim...
Pensar na vida? Pensar na vida! Pensar na vida.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Telecursos modernos

“Nada será como antes” - canta o poeta Milton Nascimento. Tudo é modificado, a cada instante, e, por isso, impermanente. Dizem que tudo evolui (não acredito muito nisso, nem pouco). A realidade é que estamos sempre descobrindo novos brinquedinhos – na ciência, na tecnologia, em todos os setores. É claro que, diante de um mundo evoluído (?), as aulas precisam ser modernizadas. Quem não vai à escola, tem a oportunidade de instruir-se (?), através da televisão. Acompanhando o ritmo da moda acelerada, os conhecidos telecursos já não são mais os mesmos – nem os interessados nos conteúdos. Hoje, temos aulas, pela televisão, 24 horas por dia, sem precisar de TV a cabo. A televisão pública dá conta de despejar cursos intensivos, práticos e baratinhos (só o custo da energia elétrica), nas horas que temos disponíveis – refeições, cochilo no sofá, insônia no quarto, ou até de pijama, no domingo.
É tanta informação sendo recebida, ao mesmo tempo, que, às vezes, os canais (cerebrais mesmo, não os da televisão) se confundem, são confundidos. E ainda tem o maldito (bendito) controle remoto – que faz confundir mais ainda. Não são só os intervalos que estão cheios de propagandas – os programas também querem vender, e, nessa competição, não há regras, nem limites. São tantas frases (bem) feitas, apontando o caminho do sucesso, do dinheiro fácil, da mordomia, dos sonhos realizados. Tantos comerciais que se repetem, de canal em canal, lavando e enxaguando cérebros cansados de trabalho, rotina, miséria, frustrações, mesmices – todas essas coisas que, também, fazem parte da vida humana.
Por outro lado, se comparados aos programas televisivos, os comerciais representam apenas a entrada do prato principal, com saladas diversas. Os programas, sim, são certeiros. Se os comerciais fazem o telespectador se sentir um fracassado, que pode ter sucesso – se vestir tal marca, comprar tal carro, beber tal cerveja, etc e tal -, os programas são incisivos: não dão escapatória, nem direito ao raciocínio. Os programas televisivos, a qualquer hora do dia, da noite, despejam telecursos modernos, de cômoda aprendizagem – até o cérebro, desabituado de pensar, absorve. Acho que é por isso mesmo que tem tanta gente (eu já vi) fazendo piadas com as aulas (formais), via televisão. Os telecursos modernos são muito mais interessantes, e aplicáveis, de imediato, à vida prática.
Nem vou perder tempo, aqui, comentando sobre os noticiários vampíricos, na televisão (vampiro tá na moda, né?) - sangue pra todo lado. Talvez, você pense que não são divulgadas só notícias de assassinatos. Claro que não. Há reportagens ensinando, passo a passo, como sequestrar, arrombar casas, veículos, e até caixas eletrônicos. O diploma do telecurso moderno é o produto (prêmio) do roubo. Mas as aulas não param por aí, não. Ainda, tem as novelas, que, há alguns anos atrás, serviam somente para entorpecer as desilusões e frustrações humanas. Hoje, não – hoje, as novelas tem função maior: ensinam práticas que a maioria das teorias condena, com direito a reprises, em todos os capítulos. E tem pior (sempre tem pior): os ditos filmes “apresentados, pela primeira vez, na televisão brasileira”. Esses, sim, são de matar, morrer. Nem precisa mostrar tiroteio. E os cujos ditos são anunciados, com imponência, como se fossem grande coisa. Toda vez que vejo esse desrespeito, na televisão, penso: os diretores subestimam o cérebro do telespectador, o qual, provavelmente, sabe que tem um cérebro (com as funções: pensar, escolher).
Diante desse constante ataque televisivo - o que fazer?... Talvez, arriscar parar, por um momento qualquer, na frente de uma televisão (ligada), e pensar sobre o que você vê – cometa essa atitude, rara, muito rara, na vida da maioria dos telespectadores. Tenha a (inimaginável) experiência de enxergar você mesmo (a), na frente da televisão. Depois, me conta – ou não.

sábado, 14 de julho de 2012

Diálogo possível

Continuo observando o mundo em que vivo, convivo, sobrevivo, e, quando me detenho nas relações, principalmente, essas conhecidas “relações de fachada”, percebo que, na realidade, as pessoas já não se relacionam mais – não querem (sair da “zona de conforto”), ou simplesmente escolhem viver “relação de fachada”, para (quem sabe?) mostrar (aos outros, sempre os outros) que não estão sós. Independente das águas turvas que correm e escorrem nos porões da alma de cada um de nós, seres humanos e mortais, acho que tudo – tudo mesmo – é resultado da escolha (intransferível) de cada um.
Você, feito eu, pode ter presenciado, ou protagonizado, diálogos semelhantes:

- hvor lenge! Der du gikk?
- Sumi nem. Ön nem nekem több keresni.

(Estranhou?.. Isso é apenas o começo, pois, em seguida:)

-Byłem chorych. Ja poszedłem do szpitala.
-He viatjat a l'estranger. Endevinar d'on?

(O “diálogo” continua:)

- Jeg troede, du ikke vil kende mig.
- あなたは私を呼び出して、私は参照と述べた。

(E continua:)

- Myslel jsem, že jsi na mě zapomněl.
- Wissen Sie, dass Sie immer mit Menschen so interessant.

(Sempre tem o que piorar, né?)

- Искате ли да знаете? Не ви трябва.
- Joka ei halua tietää sinulta olen minä.

(E ninguém mais se entende, nem consigo mesmo:)

-عشت جيدا، دونك، وسيعيش حتى أفضل.
- Vedno vedeli boste nikoli želeli vedeti, mi.

(As fisionomias, irreconhecíveis, dizem mais que:)

- Повернутися до вашого хорошого життя без мене.
- Không bao giờ muốn nói chuyện với bạn. Tạm biệt.

(Alguém sempre se apropria das últimas palavras:)

- 누가 멀리 나는 간다. 안녕히 계세요.

… e já não há mais diálogo possível – se, algum dia, existiu...

(Quer saber o que falaram?... Eu tive de recorrer a traduções, para saber o que nem os falantes souberam ouvir. Segue a tradução (“ipsis verbis”, ou “ipsis litteris” - você escolhe):
- Há quanto tempo! Por onde você andou?
- Eu não sumi. Você que não me procurou mais.
- Adoeci. Fui parar no hospital.
- Eu viajei para o exterior. Adivinha para onde?
- Pensei que você não quisesse mais saber de mim.
-Você falou que ia me telefonar, me procurar.
- Pensei que você tivesse me esquecido.
- Sei que você está sempre junto com pessoas tão interessantes.
- Quer saber? Nem preciso de você.
- Quem não quer saber de você sou eu.
- Vivi muito bem, sem você, e vou viver melhor ainda.
- Sempre soube que você nunca quis saber de mim.
- Volte para a sua boa vida, sem mim.
- Nunca mais quero falar com você. Adeus.
- Quem vai embora sou eu. Adeus.)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Amarga liberdade

Tem tanta gente que sai da fase adolescente, repetindo, para o resto da vida, que quer liberdade. Não quer. O que deseja mesmo é permissão, concessão, qualquer coisa assim, que venha do outro. Se depende do outro, para ser livre, já não há mais espaço à liberdade.
Liberdade é amarga – amarga liberdade. Não é pra qualquer um, não. Nem adianta espernear, ou jogar-se no corredor do shopping. Liberdade, na minha insignificante, mas pensada, opinião, é essencialmente solitária. E isso a maioria não quer mesmo. O adolescente, depois chamado adulto, quer liberdade, para vestir o que bem entende, maquiar-se, pentear-se a seu modo, comer só o que mais gosta, sair a qualquer hora, com quem quiser, etc etc etc. Quem não quer?... Não. Definitivamente, isso não é liberdade.
Em algum tempo da nossa vida, ensinaram-nos – talvez, continuamos ensinando outros – que liberdade é isso, só isso: ter a permissão de alguém para viver o que deseja, mesmo momentaneamente. Se isso fosse mesmo liberdade, teria definição (poderia ser até minha frase anterior). Não. Liberdade – liberdade mesmo –, que nem sabemos ansiar, por desconhecermos, é indefinível, ilimitada, não cabe em palavras, nem mesmo nos textos poéticos e emocionantes.
Minha liberdade vai, até onde começa a do outro?... Então, não sou livre. Em todo tempo da minha vida, esbarro no outro, em muitos outros. Alguns dependem de mim. De outros, eu dependo. Sou menos livre ainda. De quanta gente dependemos: artistas, professores, babás, advogados, motoristas, cozinheiros, cientistas, padeiros, vendedores, empresários, catadores de lixo reciclável, mecânicos, técnicos, engenheiros, pilotos, policiais, pedreiros, médicos, camelôs, etc e tal.
Seguindo este meu raciocínio (dá licença?), acho que o que nos resta mesmo é parar de “tapar o sol com a peneira”, deixar de lado esses discursinhos bem decorados, abandonar os livrinhos de autoajuda, e assumir que, se liberdade existe mesmo, estamos longe dela, ou ela distante de nós. Definitivamente, o que ensaiamos parecer liberdade é justamente o que nos torna prisioneiros de conceitos e preconceitos. Liberdade não é pra ser explicada – só sentida.

...E ainda insistem em gritar: liberdade!... irônico isso, não acha?...

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Velho Brasil


Nosso Brasil está envelhecendo, ainda que não aparente (será por causa do botox?). Afinal, pouco mais de cinco séculos não quer dizer grande coisa – para os orientais, principalmente. Mas, para nós, simples mortais complicados - por que complicamos -, 512 anos equivalem algumas encarnações (para quem acredita em encarnação, reencarnação). Até acho que, com a morte de tantos jovens, em acidentes (diários) de trânsito, o Brasil envelhece mais rapidamente, por que os velhinhos parecem cuidar-se mais – no volante, ou ao escolherem carona.
Enquanto os idosos se cuidam, nós – que ainda (espero) seremos velhos – não cuidamos deles. Desde 2003, o nosso velho Brasil tem o Estatuto do Idoso, e, até hoje, muita gente – nova, ou idosa – ignora esse direito. Prova disso tem, por todo lugar, nas filas, principalmente, onde ninguém respeita a “preferência aos idosos”. Velhinho pode chegar, nos últimos suspiros, que não adianta: falta “alma caridosa”, apesar de que respeito aos idosos é lei, não caridade.
No que se refere à família dos idosos, a coisa pode piorar mesmo: é cada um por ninguém, e salve-se quem puder. Na maioria das vezes, o que permite que os velhinhos permaneçam em casa é um direito adquirido, bastante conhecido: aposentadoria. Pode ser 'merreca' de aposentadoria, os familiares pegam a grana, e abandonam o velhinho, ou a velhinha, dentro de casa, sem qualquer segurança. Claro que tem pior (sempre tem): algumas famílias exageram, e, além do desamparo, resolvem massagear as rugas dos idosos, exercitar os esqueletos alquebrados, em sessões de violência, com fortes porradas de desabafo. É importante lembrar que nem todos esses casos são denunciados, e só terminam, com a morte de seres humanos que perderam (ou nunca tiveram), junto com a saúde (física e mental), o respeito da família que eles mesmos ajudaram criar. E ainda tem gente que sonha construir futuro seguro, tranquilo...
Na realidade brasileira, tem lei que assegura ao cidadão, a partir dos 65 anos, como prêmio (por ter sobrevivido), direitos preferenciais, em todos os setores - aqueles mesmos de campanha política: saúde, educação, segurança e transporte. Não recebendo os devidos cuidados, cada velhinho pode denunciar aos órgãos competentes (delegacia, Procon, Ministério Público, ou aos vizinhos). Com a criação do Estatuto do Idoso, os velhinhos podem usufruir dos ônibus – urbanos, interurbanos e suburbanos -, sem pagamento de passagem. E ainda pagam meia entrada, como nos velhos tempos de escola, em eventos sociais – cinema, teatro, futebol, comício na praça (a cobrança é outra).
O Censo 2010, do IBGE (para quem não sabe, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil já tem aproximadamente 20 milhões de idosos (quantos com botox? a pesquisa não registrou), cerca de 10% da população. Enquanto isso, gurus da Organização das Nações Unidas (ONU) preveem, sem bola de cristal, que, em 2050, o Brasil terá 22,5% da população com mais de 65 anos (fatalidade). Depois dessa, lá vai minha sugestão aos 'colegas' de geração: Comecemos organizar, a partir de agora, campeonatos nacionais de dominó e tricô, para entretenimento futuro!...
Neste momento, como diria John – o Lennon -, imagine: daqui a pouco, eu, você, e outros milhões de brasileiros, estaremos velhos – até porque ninguém deseja a outra opção que resta. Antes do “descanse em paz” - é o que penso, distanciada dos sonhos e do romantismo -, a paz pode ser tão-somente palavrinha decorativa, usada e abusada em frases de efeito, livros anestesiados pelo tempo, discursos oportunistas, comerciais de margarina...