quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Vestindo o hábito


Existe sempre um momento - crucial -, quando a gente vai vestindo o hábito, que, depois, tão repetido e impensado, torna-se vício. É mais ou menos com esse olhar (sempre estrábico), que tenho acompanhado as informações sobre as barbáries de pessoas desatualizadas, retrógradas, que pararam, lá atrás, no tempo, quando os espetáculos de arena reduziam-se a carnificinas. Pior de tudo: as barbáries estão acontecendo no nosso Brasil, em nome da “justiça com as próprias mãos” - nesses casos que me refiro, acho que ficaria melhor usarem a expressão ‘justiça com as próprias patas’ (que me perdoem o animais irracionais).
Em nome da justiça, para conter a violência, tem gente virando bicho - animal selvagem mesmo. A selvageria é tamanha, que nem ousam mais justificar-se, dar explicações - apenas cometem linchamento contra quem nem se importam de saber os nomes. A partir dessa violência, já não se pode mais falar em um só crime, ou um só criminoso, né gente?...
Ainda tem mais: tanta gente reclama dos altos salários dos poderes públicos. É bom não esquecer que o judiciário faz parte desses poderes. Resumindo: vamos deixar os altos e baixos funcionários do judiciário trabalharem!... dá licença, né gente?... Afinal de contas, o pessoal do judiciário pode, ou não pode, trabalhar em paz, fazer jus aos salários?... se continuar essa sessão carnificina (antes, era só na televisão), não vai mais haver trabalho judicial, análise de processos, julgamentos, veredictos, etc etc etc. Está na hora de essa gente, que tem tempo de sair linchando, “a qualquer momento, em edição extraordinária”, se decidir: ou dá trabalho ao judiciário, ou não reclama mais que tem gente, lá, que ganha sem trabalhar. Não há terceira alternativa. Simples assim.
Se a dita população civilizada (bípede) continuar batendo em batedores de carteira, as salas de cinema podem ficar vazias, entregues às baratas, às traças. De que jeito?... Oras carambolas, os filmes épicos já não farão sucesso de bilheteria. Ninguém mais vai querer atravessar a cidade, pagar estacionamento, enfrentar filas enormes, gastar com pipoca, pra assistir o que pode ver na esquina de casa. Alguém tem dúvida?... Até por que a maioria gosta mesmo é ao vivo (sangue vivo) - muito mais do que em sala de cinema, ou pela televisão, que tortura, sem dó, nem piedade, os que necessitam receber sangue, com todas aquelas cenas sanguinolentas, dia e noite, noite e dia, jorrando sem parar.
Diante das multiplicadas tentativas públicas de linchamento, enquanto os apresentadores de televisão gozam orgasmo sádico, fico eu a pensar - eu, impotente, diante da violência, semelhante àqueles que apanham, àqueles que batem. Será que está havendo alguma comemoração da ditadura, que não me contaram?...  Quem dera. Alguém, daqueles “tempos de chumbo”, pode até festejar (orgasmos múltiplos), enquanto outros me informam que os socos e pontapés não fazem parte de cena de filme algum, nem eram para estar na história. Não digam que tudo isso é muito “punk” - o conceito de cultura punk é outro. Nem ofendam o nosso samba, citando tratar-se de “samba do crioulo doido”. Punk é punk. Samba é samba. Violência gera violência - mesmo quando causada em nome da paz mundial. Ninguém merece - nem o afamado, nem o difamado. E pronto.

(Por favor, se alguém aguentou ler até aqui: não me julgue desmemoriada. Em tudo que escrevi, aqui, não citei a ação policial - ignorei essa parte do processo, e tratei logo da questão judicial. Não foi à toa - reservo meu direito de questionar as ações policiais, sem concluir coisa alguma, por que conseguem sempre surpreender o que acho que sei. Desse jeito, não há possibilidade de conclusão, mesmo se houvesse intenção.)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Maquiagem à brasileira


O que quero deixar registrado, aqui, nada tem a ver com produtos ou “milagres” de maquiagem convencional. Não mesmo.
Existe uma maquiagem à brasileira, bem mais apegada à pele, ao rosto, em algumas pessoas. São muitas - sei disso -, mas não são todas, para salvação do nosso Brasil varonil.
Tem gente que levanta bandeira, grita nos microfones que é contra o racismo, e blá blá blá. Não passa disso. Aliás, pra mim, o termo correto nem deveria ser racismo, mas etnismo, ou coisa parecida - é discriminação étnica, dentro da mesma raça: humana. E dizer que uma dosagem a mais de melanina causa tanta violência, tanta discriminação, até mortes...
Por todo mundo, ou parte dele, o racismo é escancarado. No Brasil, pelo que vejo, na minha visão estrábica, é que algumas pessoas saíram discursando, enquanto outras pessoas ouviam, e saíam repetindo. No final das contas, hoje, quando se fala em combate ao racismo, eu já nem sei quem está com a maquiagem à brasileira, quem não está. O discurso é semelhante, mas as atitudes chocam tanto, que não deixam dúvida. A lei que define os crimes de racismo existe, há 25 anos. Até parece que os discriminadores alimentam o racismo, há séculos, milênios. No Brasil, a maquiagem está cinicamente tão bem feita grudada, na cara de alguns, que dificilmente cai. Mas não quero me chafurdar nisso, agora.
Dia desses, por acaso mesmo, assistindo noticiário, depois da diária sessão chacina, na televisão, descobri como os afrodescendentes (ainda não compreendi a proibição da palavra ‘negros’, já que nada mudou, com isso) podem deixar de ser alvo de surtos racistas. Se a maquiagem à brasileira não falha (“Eu, racista? Imagina! Jamais!”), os afrodescendentes precisam se defender de outra forma - no caso da minha ideia (“eureka!”), o trabalho é de prevenção mesmo.
A gente tem informação, diariamente, que, se o afrodescendente batalhar e se dar bem na vida, comprar carro importado do ano, acaba sempre abordado em blitz, encaminhado à delegacia, obrigado a provar que é afrodescendente que se deu bem (mesmo!) na vida. Por isso, sugerir que os afrodescendentes se esforcem, ainda mais, para causarem inveja aos que têm outras cores de pele, seria perda de tempo, pra mim - para os afrodescendentes, mais ainda.
Vou direto à minha ideia - essa funciona mesmo, comprovadamente. Não deve ter sido só eu que assisti o dito noticiário (inesquecível), na televisão. Meu amigo afrodescendente, brasileiro, ou residente no Brasil, se você quer mesmo deixar de lado essa vida vítima de discriminação, faça “ponta” (pequena aparição), na televisão. Na globo?... Só se for em novela - “de época”, quase sempre, onde exibem escravos. Não dá outra: basta o afrodescendente ser identificado como “o cara que fez ponta, na televisão”, é liberado. A acusação errou, se confundiu, “sei lá, tipo assim”. Não se fala mais nisso. De repente até, na saída da “prisão por engano”, apareçam fãs, ou a própria acusação, pedindo autógrafos... Sem ponta, sem chance.
Maquiagem à brasileira e máscaras, nas ruas: é carnaval!...

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Na moda


O velho “Aurelião” nos lembra: “Significado de Moda: s.f. Uso passageiro que rege, de acordo com o gosto do momento, a maneira de viver, de vestir etc. / Fantasia, gosto, maneira ou modo segundo o qual cada um faz as coisas. / Cantiga, ária, modinha. / Estatística. Valor do argumento central da classe de frequência máxima. &151; Suponha-se que um menino conte os ovos de 77 ninhos de pássaros. Ele vê que quatro ninhos possuem um ovo cada um, 65 têm dois ovos cada um; cinco têm três ovos; e três têm quatro ovos. Os ninhos que contêm dois ovos são os que mais se repetem. Portanto, dois é a moda ou valor modal deste grupo de números. A moda é um tipo de média muito utilizada. // Estar na moda, estar em voga, ser geralmente usado. // Passar da moda, deixar de ser imitado, deixar de estar no gosto atual. // Bife à moda, prato feito de maneira especial por alguém, ou por um restaurante. // &151; loc. prep. À moda de, segundo o gosto de”.
Eu digo: Tem gente que gosta de viver na moda. Mas a moda, às vezes, passa rápido demais, sem dar tempo de mudar o modus vivendi. Outras modas sobrepõem ao tempo, e, por isso, volta e meia, ou meia volta, nos deparamos com algum casaco com ombreiras, ou qualquer coisa que nos remeta a antigos filmes (em preto e branco).
Pelo visto, a moda atual é sair por aí ateando fogo em ônibus, ou quebrando portas de vidro, em lojas, agências bancárias, ou veículos de televisão. Causar quebradeira - é o que conta, está na moda. Mas, também, a moda parece ser saquear supermercados, lojas, e até caminhão com mercadorias, envolvido em acidente. O mais irônico, nisso tudo, na minha insignificante opinião, é que ainda querem (os da moda) justificar que tudo isso é para reivindicar “mais saúde, mais educação, mais segurança”. Saúde? Falta sim - principalmente, mental. Educação? Até concordo, assistindo as manifestações, nas ruas. Segurança, deste jeito? É piada, né?...
Por isso, se você, feito eu, se sente fora de moda, depois de assistir um desses noticiários reprisados, o dia todo, em todos os canais de televisão, não se desespere. Ainda há tempo. Fique de olho nas redes sociais - sempre tem planos para mais uma manifestação moderna. Se preferir, você pode se informar com o vizinho, o colega, o primo, o cunhado, o dono do bar - alguém sempre sabe quando e onde haverá mais uma manifestação (desfile) da moda atual. Se você não quiser sair ateando fogo em ônibus, por aí, pode escolher acender rojões, sem alvo previsto, em plena via pública - a luz do dia facilita a moderna atividade.
Mas, se você quer estar na moda, no anonimato, use máscaras, ou até gorros desengonçados, fora de moda, ou coloque uma camiseta na cabeça. Se é para manter o anonimato, esconda a cara, da forma mais ridícula que puder, e saia quebrando tudo. A moda, agora, é não diferenciar privado, público - quebradeira geral.
Já ia esquecendo: há denúncias de que muitas pessoas recebem uma graninha, para desfilarem a dita moda, a exemplo de modelos, que frequentam eventos sociais, vestindo renomadas grifes, e levando cachês, pra isso. Nessa moda mais popular, que tem tomado conta das ruas brasileiras, ainda não lançaram as novas grifes de rojões, coquetel molotov, pedras, paus e ferros (aguardemos). Como acontece na divulgação de moda, qualquer canalzinho de televisão contribui, ensinando (passo a passo) sobre os instrumentos de destruição - uma vara de pescar não quebra uma porta de vidro de uma agência bancária, ou de uma loja, e os rojões não precisam ficar estocados, até a festa junina. Moda é moda - vale tudo, ou vale nada.
Como em toda nova moda, há quem se destaque mais. Nesta modernidade atual, tem muita gente que está indo parar, bem além da televisão - vai pra cadeia mesmo. Lá fora, na arena gigante, entre vaias e aplausos, outros - incansáveis mascarados - persistem na busca da mesma fama. Faltam câmeras, para tantas imagens tão modernas, que, às vezes sempre, nos remetem à moda mais antiga, dos primórdios mesmo, bem antes do nascimento dos tios dos nossos tataravós, do cinema mudo.
E ainda tem gente que reclama que não tem grana, para manter-se na moda. Nessa moda, especificamente, não precisa ter dinheiro, gente. Quem paga os estragos são justamente os que não estão na moda. Tem gente que paga, inclusive, justamente por resistir à moda, não participar. Alguns, mais ousados, pagam (mais caro), por denunciarem a nova moda, que não é genuinamente brasileira - todos sabemos. Semelhante às demais modas, também esta chega de todos os cantos do planeta (que continua redondo). Tem gente que não resiste à nova moda, e acaba perdendo a noção do ridículo - isso já aconteceu, em outras épocas, outras modas - e modos.
Se é holofote que os moderninhos desejam - pronto! -, já tiveram os minutos de fama. Agora, está na hora de mostrarem a cara (com, ou sem, vergonha), e continuarem a vida, longe das passarelas. “O show já terminou” - não há mais público... (Moda sempre me cansa - escolho continuar na contramão.)
Dizem que toda moda tem prazo de validade - às vezes, a dita dura mais tempo. Não esqueçamos a velha e boa calça jeans, que perdura até hoje, nas vitrines e na maioria das pernas brasileiras e estrangeiras. Se essa é uma moda sem tempo de validade, necessário é que se faça alguns ajustes, penso eu - toda moda recebe pequenos retoques. Sugiro que, junto com “mais saúde, mais educação, mais segurança”, sejam acrescidos: mais IMLs, mais necrotérios, mais crematórios, mais cemitérios. E tudo vira moda.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Fazer amor

Quantas vezes você faz amor, durante um dia inteiro?... Se me deixarem, faço amor, o tempo todo, em todos os dias inteiros - e noites, e madrugadas inteirinhas. Se me permitem, amanheço, anoiteço, envelheço, rejuvenesço, fazendo amor. A vida inteira. É o maior prazer da minha vida: fazer amor.
Não sou ninfomaníaca, não. Simplesmente, o que algum poeta romântico denominou “fazer amor”, pra mim, não é. Relação sexual nem sempre envolve amor, e até existe amor, sem sexo - sexo é sexo, amor é amor, mesmo com a discordância da igreja, não tão santa, como querem os fiéis (que o digam, a inquisição e a pedofilia).
Se depender de mim, faço amor, o tempo todo - nem quero saber de outra coisa. Porque, na minha insignificante opinião, fazer amor é fazer qualquer coisa, por amor, com amor. Claro, nem sempre fazer amor me é possível, por que os outros, as circunstâncias, ou seja lá o que for, me impossibilitam. Tão logo me desvencilho do que tive de fazer, sem amor, lá estou eu, novamente, fazendo amor, por amor, com amor. Assim, aprendo a amar - mais e melhor. Só sei de mim, quando faço amor - e, pra mim, não há amor maior à vida que esse momento, quando estou (inteira) fazendo alguma coisa, até afagando um animalzinho, por amor, com amor.
Provavelmente, quem associou o termo “fazer amor” com a relação sexual transbordava os pecados impingidos pela histórica igreja. Assim, para alívio de consciência (traduzindo: prazer desvinculado de pecado), denominou o ato sexual como “fazer amor” - termo cheio de romantismo, nada pecaminoso, longe da palmatória religiosa. A partir daí, foi estabelecida a ordem, nem sempre implícita: Só pode manter relação sexual, se existe amor. Por isso, tem tanta gente confusa, buscando amor no sexo, sexo no amor, e por aí vai... Claro, é ilimitadamente mais prazeroso, fazer sexo com amor. Na minha medíocre opinião, triste é o cada vez mais popular sexo casual, também chamado “masturbação terceirizada”.
Fazer amor, na minha vida, é toda a ação feita por amor, com amor. Às vezes, não fazer (alguma ou qualquer coisa) é a maior ação de amor.
Já confundimos e complicamos tanto, nem havia necessidade de a igreja se intrometer nas relações humanas. Como se não bastasse o “balaio de gatos” que criamos, e chamamos amor, a igreja ainda impinge que relação sexual é pecado mortal. Depois dessa, claro que a relação entre os seres humanos só poderia desandar de vez. Aliás, não desandou só a relação sexual, mas todas as demais. Criamos e mantemos, até hoje, uma espécie de aristocracia, onde alguns poderosos (a quem delegamos poderes, sempre questionáveis e frágeis) determinam o que é certo, o que é errado. Por causa disso, inclusive, tem gente vivendo em autossuplício, com o intento de redimir-se dos tantos pecados cometidos.
Longe de tudo isso, que obriga a ‘boiada’ seguir adiante, prevalece o amor genuíno, esse sentimento que nos identifica uns com os outros, em cada olhar humano, em qualquer esquina da vida. Amor - cada vez mais distante.
Acaso, algum dia, ou alguma noite, você me encontre, por aí, por aqui, mantenha a discrição. Pode ser que, neste exato momento, eu esteja fazendo o que mais gosto: amor.